O Codex Gigas (Livro Gigante, em Latim) é considerado o maior manuscrito medieval existente no mundo. Foi criado no início do século XIII, presumivelmente no mosteiro beneditino de Podlažice na Boemia (actual República Tcheca), e agora está preservado na Biblioteca Nacional da Suécia, em Estocolmo. É também conhecido como a Bíblia do Diabo, devido a uma grande figura do diabo no seu interior e da lenda em torno da sua criação.
O códice tem capas de madeira, revestidas de couro e ornamentadas com motivos metálicos. Com 92 cm de altura, 50 cm de largura e 22 cm de espessura, é o maior manuscrito medieval conhecido. Atualmente é constituído por 310 folhas de velino (uma espécie de pergaminho), mas há indícios de algumas páginas terem sido retiradas da versão original. Não se sabe quem o fez, nem se conhecem as razões de as páginas terem sido removidas, embora se pense que algumas delas pudessem conter as regras monásticas dos beneditinos. O códice pesa cerca de 75 kg, e o velino nele usado foi elaborado a partir de pele de vitelo (ou pele de jumento, segundo algumas fontes), num total de 160 animais, pois naquele tempo ainda não tinha papel.
O Codex inclui toda a versão Vulgata da Bíblia (Vulgata é a tradução para o latim da Bíblia), exceto para os livros de Atos e Apocalipse, provenientes de uma versão pré-Vulgata (estão também incluídos a enciclopédia "Etymologiae" de Isidoro de Sevilha, "Antiguidades Judaicas" e "Guerras dos Judeus" de Flávio Josefo,
"Chronica Boemorum" (Crónica dos Boémios) de Cosmas de Praga e vários
tratados sobre medicina. Pequenos textos completam o manuscrito:
alfabetos, orações, exorcismos, um calendário com as datas de celebração
de santos locais, registros de acontecimentos relevantes, e uma lista de
nomes, possivelmente de benfeitores e de monges do mosteiro de
Podlažice. Todo o documento está escrito em latim.
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| Uma das 310 páginas do Codex |
O manuscrito contém figuras decoradas (iluminuras) em vermelho, azul, amarelo, verde e dourado. As letras maiúsculas que iniciam os capítulos estão elaboradamente decoradas com motivos que, frequentemente, ocupam grande parte da página. O Codex tem um aspecto uniforme pois a natureza da escrita não é alterada em toda a sua extensão, não evidenciando sinais de envelhecimento, doença ou estado de espírito do escriba. Isto levou a que se considerasse que todo o texto foi escrito num período de tempo muito curto (ver lenda). No entanto, atendendo ao tempo necessário à escrita do texto, e ao desenho e pintura das ilustrações, especialistas acreditam que o livro terá levado mais de 20 anos a ser concluído.
A página 290 contém apenas uma figura original de um diabo, com cerca de
50 cm de altura. Algumas páginas antes desta, estão escritas sobre um
velino escurecido e os caracteres são mais esbatidos que no resto do
manuscrito. A razão para a diferença nas cores é que o velino, por ser
feito a partir de peles animais, escurece quando exposto à luz. No
decurso dos séculos, as páginas mais expostas acabaram por ter um
aspecto mais escuro.
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Imagem do diabo na página 192, que, pelo aspecto escuro, era uma das mais expostas do livro
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Segundo a lenda, o escriba foi um monge que quebrou os votos monásticos e foi condenado a ser murado vivo. A fim de evitar esta severa punição, ele prometeu a criação, em uma única noite, de um livro que glorificaria o mosteiro para sempre e que incluiria todo o conhecimento humano. Perto da meia-noite, ele teve a certeza que não conseguiria concluir esta tarefa sozinho e, por isso, fez uma oração especial, não dirigida a Deus, mas sim ao anjo banido, Lúcifer, pedindo-lhe que o ajudasse a terminar o livro em troca da sua alma. O monge vendeu, assim, a sua alma ao diabo. O diabo concluiu o manuscrito do monge e foi acrescentada uma imagem do diabo como agradecimento pela sua ajuda. Apesar desta lenda, o códice não foi proibido pela Inquisição e foi analisado por muitos estudiosos ao longo dos tempos.
Considerava-se por muito tempo que esta versão de condenação ao emparedamento do monge era verdadeira, devido à interpretação precipitada da palavra Inclusus, como sendo emparedamento. Na verdade foi reconsiderada esta tradução como sendo "recluso". Seria um monge que foi condenado, ou se condenou à reclusão no monsteiro para realizar o trabalho de uma vida. Se reforça essa versão pela "dedicatória" encontrada no final do livro: hermanus inclusus, ou "Herman, o recluso" ou "Herman, o enclausurado".
Fonte: Wikipédia













